quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Inconstância espiritual

Certo dia uma mãe disse: “Parece uma maldição. Os filhos quando são crianças nos obedecem e vão à igreja normalmente, mas quando crescem, eles deixam de frequentá la, começam a se desviar e não querem mais saber de igreja”. A frase desta mãe é um desabafo, assim como o de tantas outras que passam pela mesma situação.

Não é via de regra, mas, infelizmente, isto acontece. Muitos filhos quando crianças obedecem aos pais participando das atividades da igreja. Porém, ao iniciarem a fase da adolescência (13 anos em diante), começam a se dispersar, não sentem mais vontade de ir e acham tudo uma “caretice”. Alguns respondem mal aos pais, quando estes os chamam para ir à Casa do Senhor; outros se tornam rebeldes e saem com turminhas de amigos não cristãos e sem compromisso com a obra de Deus.

É certo dizer que os pais conseguem ter mais controle sobre a vida dos filhos quando estes ainda são crianças. Já na fase adulta, muitos deles se consideram independentes e aptos para fazer o que querem. É neste momento, que eles passam a andar por um caminho que ao homem parece ser bom, mas seu fim não é o melhor (Pr. 14.12).

A Palavra de Deus diz: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele.” (Pr. 22.6). Mas, por que muitos filhos mesmo recebendo o ensinamento bíblico – quando crianças – se desviam quando adultos? Por que muitos jovens não conseguem ser constantes na vida espiritual?

O pastor Ronaldo Moreira de Faria, líder do Ministério Rhema Reconciliação – um ministério que trata de libertação e cura interior de jovens e adultos –, da Igreja Batista da Lagoinha, é enfático ao dizer que a Bíblia desafia os pais a serem modelos no lar. “Os pais devem dizer aos seus filhos: ‘Olhem para nós e façam o mesmo’”, enfatiza o pastor. “Quando os pais vivem segundo o padrão bíblico, que é a proposta de Deus, aplicando em suas vidas os princípios da Palavra do Senhor, não somente eles são abençoados, mas também os seus filhos que crescem com o temor do Senhor em seus corações”.

Outro ponto relevante nesta discussão e apontado pelo pastor, é a questão social atual do país que interfere nos lares. Ele explica: “As famílias de hoje vivem grandes conflitos. A nossa sociedade passa por diversas crises financeiras, com isso as mães saem para trabalhar fora, deixando os seus filhos com as ‘babás eletrônicas’ – TVs e computadores. Os filhos são influenciados por estas ‘babás’, recebendo uma carga de ensino puramente secular, levando-os a buscarem seus próprios interesses, prazeres e destinos para as suas vidas”.

Quem comenta também a questão é a pastora e psicanalista, Lúcia Helena Albuquerque do Santos. Ela é Bacharel em Teologia e junto ao seu esposo – também psicanalista –, Jeiel Eduardo dos Santos, é co-pastora na Igreja Batista Shekinah, em Pedro Leopoldo, Minas Gerais. A doutora Lúcia Helena diz: “São vários os fatores que levam um jovem, após ‘largar o seio materno’, ou seja, a influência da mãe e do pai nas suas decisões, a se desviarem dos caminhos do Senhor. A competição do mundo em relação à Igreja é desigual. Com o avanço da tecnologia, a família tem se desintegrado com velocidade e por mais que os pais vão à igreja e desenvolvam a vida de fé cristã no seio da família, os valores estão se perdendo e com isso não se interioriza os valores bíblicos para a família”, observa.

Para a doutora Lúcia, não há como culpar unicamente os pais pela inconstância espiritual dos filhos, porém, não há também como isentá-los da responsabilidade de cuidarem de seus filhos, já que as Escrituras Sagradas ensinam os valores esternos que, infelizmente, não estão sendo seguidos por pais e líderes religiosos. “O que acontece é que as pessoas não estão obedecendo ao que a Bíblia diz. Sendo os filhos herança da parte do Senhor, eles são um presente de Deus para os pais e, como tal, devem ser instruídos por meio da nossa vida, e não somente da nossa fala”, ressalta.

O psicanalista e psicopedagogo, Jairo Gonçalves diz que a inconstância espiritual se deve, pelo menos, a dois motivos (causas) principais, além do mau exemplo dos pais: “Falta de uma VERDADEIRA e COMPLETA conversão a Cristo”, afirma. “Verdadeira conversão, isto é, experiência real do novo nascimento espiritual. Eu, por exemplo, nasci num lar de líderes evangélicos batistas no sul do Paraná, e me dizia crente desde o berço. Esse é um problema para filhos de pais crentes. Mas só me converti verdadeiramente, nasci de novo, ao 14 anos de idade. Então, passei do Jesus da História para o Cristo da Fé. Entretanto, não desenvolvi (não efetuei, não operei) a minha salvação (Fl. 2.12) e fiquei sem conhecer a completa conversão a Cristo. Quando conheci a Cristo pensei que tinha chegado ao mais alto nível da minha vida espiritual. Que engano. Faltava conhecer o Cristo da cruz (Gl. 2.20) e o batismo de amor (Gl. 5.5). Por isso, minha vida espiritual, apesar de ser genuína, não era abundante e madura, mas sim, infantil, pequena e INCONSTANTE, muito parecida, por exemplo, com a vida pentecostal dos irmãos da Igreja de Corinto, observa Jairo que também é pastor e, com sua esposa, lidera a Missão Vidas – instituição cristã independente e interdenominacional.

Pelo amor ou pela dor?

Uma das histórias mais conhecidas da Bíblia está narrada no Evangelho de Lucas 15.11-32. É a Parábola do filho pródigo”. Este texto de Lucas já foi tema de milhares de pregações por todo o mundo, e por meio desta parábola, tira-se uma grande lição.

A Bíblia conta que certo homem tinha dois filhos. O mais moço deles disse ao pai: “Pai, dá-me a parte dos bens que me toca”. E o pai repartiu então os seus bens entre os dois filhos. Poucos dias depois, o filho mais moço ajuntando tudo, partiu para um país distante, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente. E, havendo ele dissipado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a passar necessidades. Então, foi encontrar-se a um dos cidadãos daquele país, o qual o mandou para os seus campos a apascentar porcos. E desejava encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam; e ninguém lhe dava nada. Caindo, porém, em si, disse: “Quantos empregados de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados”. Levantou-se, pois, e foi para seu pai. Estando ele ainda longe, seu pai o viu, encheu-se de compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. (…)

Assim como este jovem da parábola, tantos outros se enveredam pelo mesmo caminho. Largam a família em busca de prazeres momentâneos. Pra que isto? Para que sofrer tanto? Por que não vir pelo amor, mas pela dor?

O jovem da parábola tinha tudo em casa. Da mesma maneira, muitos – mesmo com dificuldades financeiras – têm um lar, mas querem mais… mais… mais… sempre mais… Querem novas aventuras…

A parábola diz que aquele jovem caiu em si, percebendo a tamanha “besteira” que havia feito: largar o seu lar em busca de emoções. O pecado faz isto, “cega” as pessoas levando-as a caminhos, muitas vezes, sem volta.

É triste perceber que muitos jovens sofrem lá fora, e depois voltam arrebentados pelas decepções e desilusões da vida. Voltam da mesma maneira que o jovem da parábola: que perdeu tudo (os bens que o pai havia lhe dado), chegando ao fundo do poço e a ponto de se alimentar da mesma comida que os porcos. Este é o ponto a que uma pessoa chega quando está fora da presença e da cobertura do Pai Celestial e também da sua família.

Mas, assim como aconteceu com o jovem da parábola que se arrependeu e tornou para a casa de seu pai, da mesma forma pode acontecer com cada jovem que se afasta de Deus: existe uma porta aberta pelo Senhor pronta para recebê-lo de volta.

Cabe aqui neste texto, a palavra final dada pela doutora Lúcia Helena a este respeito. Ela diz: “A vida que o mundo oferece é muito mais do que a Igreja oferece aos jovens, é uma disputa desleal, pois o ser humano é como um ‘troféu’ que está sendo disputado pelo inferno. E para fugir das garras do inferno, é preciso que o jovem tome a decisão certa: decidir-se por Jesus. Porém, Deus não força ninguém a tomar esta decisão, cabe a cada jovem decidir-se por si só. No entanto, para tomar a decisão, o jovem precisa de um referencial. Primeiro do lar que é o seu alicerce, depois da Igreja, da escola e da sociedade. A criança que está bem estruturada sabe discernir o que os seus pais biológicos a ensinam como certo e errado. E, conseqüentemente, quando jovem ela também saberá discernir o que agrada ou não o seu Pai Celestial”.

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